domingo, 13 de setembro de 2015

MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL



Ir.’.Fuad Haddad

História da nossa Independência está intimamente ligada com a Fundação
do Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da Maçonaria Brasileira.
Apesar do farto material documental existente, pouco se publica sobre o papel
importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como Instituição, teve nos fatos
que precipitaram a proclamação da Independência.
Deixar de divulgá-los é ocultar a verdade e consequentemente ocorrer no erro da
omissão, que nem a História e nem o tempo perdoam, principalmente para com
aqueles nossos Irmãos, brava gente brasileira, que acreditavam, ou ainda mais,
tinham como ideário de vida a Independência da Pátria tão amada.
O Objetivo principal, sem dúvida nenhuma, da criação do Grande Oriente,
foi engajar a Maçonaria na luta pela Independência Política do Brasil.
Desde sua descoberta em 1500, o Brasil foi uma Colônia Portuguesa, sendo explorada
desde então pela sua Metrópole. Não tinha, portanto, liberdade econômica,
liberdade
administrativa, e muito menos liberdade política.
Como a exploração metropolitana era excessiva e os colonos não tinham o direito
de protestar, cresceu o descontentamento dos brasileiros.
Inicia-se então as rebeliões conhecidas pelo nome de Movimentos Nativistas, quando
ainda não se cogitava na separação entre Portugal e Brasil. Estampava-se em nosso
País o ideal da liberdade. A primeira delas foi a Revolta de Beckman em 1684, no
Maranhão.
No início do século XVIII, com o desenvolvimento econômico e intelectual da
colônia, alguns grupos pensaram na Independência Política do Brasil, de forma
que os brasileiros pudessem decidir sobre seu próprio destino. Ocorreram, então,
a Inconfidência Mineira (1789) que marcou a história pela têmpera de seus
seguidores; depois a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817),
todas elas duramente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes
movimentos a Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades
Secretas já existentes, de caráter maçônico tais como: “Cavaleiros das Luz” na
Bahia e “Areópago de Itambé” na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como pelas
ações
individuais ou de grupos de Maçons.
Nos dias atuais, os grandes vultos e os fatos marcantes da nossa história estão,
na maioria das pessoas, adormecidos. O sentimento cívico está distante e
muita vezes apagado em nossas mentes. Fatos e acontecimentos importantes
marcaram o início da emancipação política da nossa nação. Retomemos os tempos
idos e a alguns referenciais da nossa rica história.
Início do século XIX – ano de 1808 – D. João e toda família real refugia-se no
Brasil em decorrência da invasão e dominação de Portugal por tropas francesas,
encetadas pelo jugo napoleônico. Este fato trouxe um notável progresso para a
colônia, pois esta passou a ter uma organização administrativa idêntica à de um
Estado independente.
D. João assina o decreto da Abertura dos Portos, que extinguia o monopólio
português sobre o comércio brasileiro. O Brasil começa a adquirir condições
para ter uma vida política independente de Portugal, porém sob o aspecto econômico,
passa a ser cada vez mais controlado pelo capitalismo inglês.
Ano de 1810 – Ocorre a expulsão dos franceses por tropas inglesas, que passam
a governar Portugal com o consentimento de D. João.
Ano de 1815 – D. João, adotando medidas progressistas, põe fim na situação
colonial do Brasil, criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, irritando
sobremaneira os portugueses.Ano de 1820 – Cansados da dominação e da
decadência econômica do país, os portugueses iniciam uma revolução na cidade
do Porto culminando com a expulsão dos ingleses. Estabelecem um governo
temporário, adotam uma Constituição Provisória e impõem sérias exigências a
D. João (agora já com o título de rei e o nome de D. João VI), ou sejam:
– aceitação da constituinte elaborada pelas cortes;
– nomeação para o ministério e cargos públicos;
– sua volta imediata para Portugal.
Com receio de perder o trono e sem outra alternativa, em face das exigências da
Corte (Parlamento português), D. João VI regressa a Lisboa (Portugal) em 26 de
abril de 1821, deixando como Príncipe Herdeiro, nomeado Regente do Brasil pelo
Decreto de 22 de abril de 1821, o primogênito com então 21 anos de idade –
PEDRO DE ALCÂNTARA FRANCISCO ANTÔNIO JOÃO CARLOS XAVIER
DE PAULA MIGUEL RAFAEL JOAQUIM JOSÉ GONZAGA PASCOAL CIPRIANO
SERAFIM DE BRAGANÇA E BURBON. O príncipe Dom Pedro, jovem e voluntarioso, aqui permanece,
não sozinho pois logo viu-se envolvido por todos os lados de homens de bem, Maçons,
que constituíam a elite pensante e econômica da época.
Apesar de ver ser aceitas suas reivindicações, os revolucionários portugueses não
estavam satisfeitos. As cortes de Portugal estavam preocupadas com as perdas das
riquezas naturais do Brasil e previam sua emancipação, como ocorria em outros
países sul-americanos. Dois decretos em 1821 de números 124 e 125 emanados
das Cortes Gerais portuguesas, são editados na tentativa de submeter e inibir
os movimentos no Brasil.
Um reduzia o Brasil da posição de Reino Unido à antiga condição de colônia, com a
dissolução da união brasílico-lusa, o que seria um retrocesso; o outro,
considerando a permanência de D. Pedro desnecessária em nossa terra, decretava
a sua volta imediata.
Os brasileiros reagiram contra os decretos através de um forte discurso do Maçom
Cipriano José Barata, denunciando a trama contra o Brasil.
O Maçom José Joaquim da Rocha funda em sua própria casa o Clube da Resistência,
depois transformado no Clube da Independência. Verdadeiras reuniões maçônicas
ocorrem na casa de Rocha ou na cela de Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio,
Frei Sampaio, no convento de Santo Antônio, evitando a vigilância da polícia.
Várias providências foram tomadas, dentre elas: consultar D. Pedro; convidar o
Irmão, Maçom, José Clemente Pereira, presidente do Senado, a aderir ao
movimento e enviar emissários aos Maçons de São Paulo e Minas Gerais.
Surge o jornal, “Revérbero Constitucional Fluminense”, redigido por Gonçalves
Ledo e pelo Cônego Januário, que circulou de 11 de setembro de 1821 a 8 de
outubro de 1822, e que teve a mais extraordinária influência no movimento
libertador, pois contribuiu para a formação de uma consciência brasileira,
despertando a alma da nacionalidade.
Posteriormente, a 29 de julho de 1822, passa a ser editado o jornal – “Regulador
Brasílico-Luso”, depois denominado, “Regulador Brasileiro”, redigido pelo Frei
Sampaio, que marcou também sua presença e atuação no movimento emancipador
brasileiro.
Na representação dos paulistas, de 24 de dezembro de 1821, redigida pelo Maçom
José Bonifácio de Andrada e Silva, pode-se ler o seguinte registro:
É impossível que os habitantes do Brasil, que forem honrados e se prezarem de ser
homens, possam consentir em tais absurdos e despotismo… V. Alteza Real deve ficar
no Brasil, quaisquer que sejam os projetos das Cortes Constituintes, não só para o
nosso bem geral, mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo.
Se V. Alteza Real estiver (o que não é crível) deslumbrado pelo indecoroso decreto
de 29 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe,
tornando-se escravo de um pequeno grupo de desorganizadores, terá que responder,
perante o céu, pelo rio de sangue que, decerto, vai correr pelo Brasil com a sua
ausência…
9 de janeiro de 1822 – Na sala do trono e interpretando o pensamento geral,
cristalizado nos manifestos dos fluminenses e dos paulistas e no trabalho de
aliciamento dos mineiros, o Maçom José Clemente Pereira, presidente do Senado
da Câmara, antes de ler a representação, pronunciou inflamado e contundente
discurso pedindo para que o Príncipe Regente permanecesse no Brasil. Após
ouvir atentamente, o Príncipe responde: “estou pronto, diga ao povo que fico”.
A alusão às hostes maçônicas era explícita e D. Pedro conheceu-lhe a força e a i
nfluência, entendendo o recado e permanecendo no Brasil. Este episódio, conhecido
como o Dia do Fico, marcou a primeira adesão pública de D. Pedro a uma causa
brasileira.
Em 13 de maio de 1822 – os Maçons fluminenses, sob a liderança de Joaquim
Gonçalves Ledo, e por proposta do brigadeiro Domingos Alves Munis Barreto,
resolviam outorgar ao Príncipe Regente o título de Defensor Perpétuo do Brasil,
oferecido pela Maçonaria e pelo Senado.
Ainda em maio de 1822 – aconselhado pelo então seu primeiro ministro das pastas
do Reino e de Estrangeiros, o Maçom José Bonifácio de Andrada e Silva, D. Pedro
assina o Decreto do Cumpra-se, segundo o qual só vigorariam no Brasil as Leis das
Cortes portuguesas que recebessem o cumpra-se do príncipe regente.
Em 2 de junho de 1822 – em audiência com D. Pedro, o Irmão José Clemente Pereira
leu o discurso redigido pelos Maçons Joaquim Gonçalves Ledo e Januário Barbosa,
que explanavam da necessidade de uma Constituinte. D. Pedro comunica a D. João
VI que o Brasil deveria ter suas Cortes. Desta forma, convoca a Assembléia
Constituinte para elaborar uma Constituição mais adequada ao Brasil. Era outro
passo importante em direção à independência.
Em 17 de junho de 1822 – a Loja Maçônica “Comércio e Artes na Idade do Ouro” em
Sessão memorável, resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento de seu quadro
de Obreiros, através de sorteio, surgindo assim as Lojas “Esperança de Niterói” e
“União e Tranqüilidade”, se constituindo nas três Lojas Metropolitanas e
possibilitando a criação do “Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano”, que
depois viria a ser denominado de “Grande Oriente do Brasil”.
José Bonifácio de Andrada e Silva (o Patriarca da Independência) é eleito primeiro
Grão-Mestre, tendo Joaquim Gonçalves Ledo como 1º Vigilante e o Padre Januário
da Cunha Barbosa como Grande Orador.
O Objetivo principal da criação do GOB foi de engajar a Maçonaria como Instituição,
na luta pela independência Política do Brasil, conforme consta de forma explícita
das primeiras atas das primeiras reuniões, onde só se admitia para Iniciação e
filiação em suas Lojas, pessoas que se comprometessem com o ideal da Independência
do Brasil.
No dia 2 de agosto – por proposta de José Bonifácio, é Iniciado o Príncipe Regente,
D. Pedro, adotando o nome histórico de Guatimozim (ultimo imperador Asteca morto
em 1522), e passa a fazer parte do Quadro de Obreiros da Loja “Comércio e Artes”.
No dia 5 de agosto – por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a
presidência dos trabalhos, foi aprovada a Exaltação ao Grau de Mestre Maçom que
possibilitou, posteriormente, em 4 de outubro de 1822, numa jogada política de
Ledo, o Imperador ser eleito e empossado no cargo de Grão-Mestre, do GOB.
Porém, foi no mês de agosto de 1822 que o Príncipe, agora Maçom, tomou a medida
mais dura em relação a Portugal, declarou inimigas as tropas portuguesas que
desembarcassem no Brasil sem o seu consentimento.
Em 14 de agosto parte em viagem, com o propósito de apaziguar os descontentes em
São Paulo, acompanhado de seu confidente Padre Belchior Pinheiro de Oliveira e de
uma pequena comitiva. Faz a viagem pausadamente, percorrendo em 10 dias 96 léguas
entre Rio e São Paulo. Em Lorena, a 19 de agosto, expede o decreto dissolvendo
o governo provisório de São Paulo. No dia 25 de agosto chega a São Paulo sob salva
de artilharia, repiques de sino, girândolas e foguetes, se hospedando no Colégio
dos Jesuítas. De São Paulo se dirige para Santos em 5 de setembro de 1822, de onde
regressou na madrugada de 7 de setembro.
Encontrava-se na colina do Ipiranga, às margens de um riacho, quando foi
surpreendido pelo Major Antônio Gomes Cordeiro e pelo ajudante Paulo Bregaro,
correios da Corte, que lhes traziam notícias enviadas com urgência pelo seu
primeiro ministro José Bonifácio.
D. Pedro, após tomar conhecimento dos conteúdos das cartas e das notícias trazidas
pelos emissários , pronunciou as seguintes palavras: “As Cortes me perseguem,
chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Verão agora quanto vale o
rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero
do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal”
A Independência do Brasil foi realizada à Sombra da Acácia, cujas raízes
prepararam o terreno para isto.
A Maçonaria teve a maior parte das responsabilidades nos acontecimentos libertários.
Não há como negar o papel preponderante desta Instituição Maçônica na emancipação
política do Brasil.
Desde 1815, com a fundação da Loja Maçônica “Comércio e Artes”, que daria origem
às Lojas “União e Tranqüilidade” e “Esperança de Niterói” e a posterior
Constituição do Grande Oriente do Brasil em 17 de junho de 1822, o ideário de
Independência se faziapresente entre seus membros e contagiava os brasileiros.
À frente do movimento, enérgica e vivaz, achava-se a Maçonaria e os Maçons. Entre
seus principais Obreiros, Pedreiros Livres, de primeira hora podemos destacar:
Joaquim Gonçalves Ledo, José Bonifácio da Andrada e Silva, José Clemente Pereira,
Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Joaquim da Rocha, Padre Belchior Pinheiro
de Oliveira,
Felisberto Caldeira Brant, o Bispo Silva Coutinho Jacinto Furtado de Mendonça,
Martim Francisco, Monsenhor Muniz Tavares, Evaristo da Veiga dentre muitos outros.
Faz-se necessário também alçar a figura do personagem que se destacou durante todo
o movimento articulado e trabalhado pela Maçonaria, o Príncipe Regente, Dom Pedro.
Iniciado Maçom na forma regular prescrita na liturgia e nos Rituais Maçônicos, e
nesta condição de Pedreiro Livre no Grau de Mestre Maçom, aos 24 anos de idade,
proclama no dia 7 de setembro a nossa INDEPENDÊNCIA. Posteriormente, no dia 4
de outubro de 1822, D. Pedro comparece ao Grande Oriente do Brasil e toma posse
no cargo de Grão-Mestre, sendo na oportunidade aclamado Imperador Constitucional
e Defensor Perpétuo do Brasil. No mesmo dia, Joaquim Gonçalves Ledo redigiu uma
nota patriótica ao povo brasileiro, a primeira divulgação, depois da independência,
que dizia:
“Cidadãos! A Liberdade identificou-se com o terreno; a Natureza nos grita
Independência; a Razão nos insinua; a Justiça o determina; a Glória o pede;
resistir-lhe é crime, hesitar é dos covardes, somos Homens, somos Brasileiros.
Independência ou Morte!

Eis o grito de honra, eis o brado nacional…”


FONTE: MSMAÇOM
BIBLIOGRAFIA:

CASTELLANI, José. História do Grande Oriente do Brasil.
Os Maçons na Independência do Brasil.
FAGUNDES, Morivalde Calvet. A Maçonaria e as Forças Secretas da Revolução.
FERREIRA, Tito L. e FERREIRA, Manoel Rodrigues. A Maçonaria e a Independência
Brasileira MORAIS, Melo. A Independência e o Império do Brasil

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